Simepetro - Sindicato Interestadual das Indústrias Misturadoras, Envasilhadoras de Produtos Derivados de Petróleo
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O valor estratégico da opção verde – 01/09/10
 
O Estado de S. Paulo

Patrícia Campos Mello, Afra Balazina e Herton Escobar
Faltando um mês para as eleições, mesmo com o País sufocado pelas queimadas – só em agosto foram 27 mil focos de incêndio, número muito superior aos 1.493 fiscais e 1.300 brigadistas do Ibama que deveriam combatê-los – a sustentabilidade ainda é tratada como tema secundário pelos principais candidatos à Presidência. Para especialistas, ela deveria estar no centro da nossa estratégia de desenvolvimento. “Ambiente é a única área na qual somos potência, já que não somos potência nuclear nem militar”, diz o diplomata Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda.
Maior economia tropical, dono de reservas de água doce e biodiversidade que nenhum país tem, o Brasil desfruta de posição privilegiada para ser a primeira nação a conciliar crescimento econômico e conservação, num cenário em que catástrofes climáticas causam preocupação mundial. Ricupero acha que deveríamos usar essas vantagens comparativas para exercer nosso “soft power”, termo popularizado pelo professor de Harvard Joseph Nye para definir o poder de influenciar sem recorrer à força bruta. “Nenhum acordo ambiental decisivo pode ser alcançado sem nós. Deveríamos usar isso na diplomacia, em vez de escolher temas duvidosos, como a parceria com o Irã.”
Enquanto outros países enfrentam o caríssimo desafio de substituir o uso de combustíveis fósseis pelas energias renováveis, o Brasil já tem de saída uma matriz energética essencialmente limpa. Cerca de 90% da eletricidade gerada no País é renovável, extraída da força das águas e da queima de matéria orgânica. Quando se consideram também energias combustíveis para uso veicular e industrial (como gasolina e diesel), esse porcentual “verde” cai para 48% – ainda assim, muito acima da média mundial, graças ao uso crescente do etanol em veículos flex.
Essa posição privilegiada embute o risco de o Brasil se acomodar, alerta Roberto Schaeffer, especialista em planejamento energético do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). “Não diria que o Brasil está no caminho do desenvolvimento de baixo carbono, porque não escolheu esse caminho deliberadamente”, diz. “Mesmo se não fizer nada, ele continuará sendo de baixo carbono. Mas é possível ser muito mais. Agora, decisões precisam ser tomadas para que ele continue evoluindo.”
Custo da transição. Schaeffer é umdos autores de um estudo ambicioso, financiado pelo Banco Mundial, que avaliou a relação custo-benefício de promover, deliberadamente, o desenvolvimento de baixo carbono no Brasil. O custo do esforço extra para limpar ainda mais a economia (comparado a um cenário em que as atuais políticas oficiais sejam mantidas) é de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões anuais até 2030. “Para o País é um benefício, sem dúvida. Mas não obrigatoriamente para cada empreendedor individualmente”, afirma Schaeffer. Ele defende a tese de que o governo precisa oferecer incentivos para bancar essa transição.
Infelizmente, só países que enfrentaram tragédias parecem se dar conta da importância da sustentabilidade. Como lembra Jacques Marcovitch, ex-reitor da Universidade de São Paulo, muitas mortes foram causadas pela fuligem das chaminés de fábricas durante o processo de industrialização da Inglaterra. Hoje, Londres é uma das capitais mais limpas da Europa e reconhecida pela despoluição do Rio Tâmisa.
Outros líderes entre os países emergentes já sofrem os graves problemas de crescer sem levarem conta o ambiente, mas reagem de formas diferentes. A Índia costuma usar o argumento de que tem o direito de repetir a trajetória dos países desenvolvidos – ainda que seguindo um modelo do século 20, que abusa, por exemplo, do uso de carvão. Também dependente do carvão, a China tem estimulado a pesquisa em energias limpas, como a solar, e criou um gigantesco programa de plantio de árvores para tentar ao menos brecar o processo de desertificação do país.
Para Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, o Brasil tem posição privilegiada mesmo entre os emergentes. “Não estamos numa situação que exige crescimento acelerado, no nível de China e Índia. É um imenso privilégio, que talvez eles não tenham em razão do tamanho da população”, afirma. “Temos um certo conforto com relação à capacidade de nos organizar para um crescimento voltado à qualidade, e não um crescimento a qualquer custo.”
Na opinião de Abramovay, o Brasil deve investir com urgência na fabricação de produtos que consumam menos energia e matéria-prima. “Nossa indústria automobilística ainda é uma indústria do início da segunda metade do século 20, enquanto a China, a Europa, o Japão e os Estados Unidos já estão ingressando em outro patamar.”

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