O Estado de S. Paulo |
Leandro Modé
O economista-chefe do Banco Credit Suisse no Brasil, Nilson Teixeira, destacou os números relativos aos investimentos no quarto trimestre de 2009. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expansão foi de 6,6% em relação ao terceiro trimestre. “Quando olhamos o ritmo de investimentos, a leitura é: provavelmente, a economia será capaz de crescer nos próximos anos em ritmo mais acelerado do que no passado sem gerar desequilíbrios”, afirmou, por telefone, de Nova York, onde se encontra para reuniões com clientes. Teixeira é um dos analistas de mercado que falam pouco com a imprensa. Ele aceitou conversar com o Estado para comentar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado. Por ora, enquanto os investimentos não se traduzem em aumento da capacidade produtiva, o Banco Central (BC) terá de agir para desacelerar o ritmo da atividade econômica. Para Teixeira, o BC começará a elevar a taxa básica de juros (Selic) na reunião de abril. O ciclo total de altas, para ele, deve totalizar 1,50 ponto porcentual – ou seja, a Selic iria para 10,25%, ante os atuais 8,75% ao ano. “(É) bem menos do que aponta hoje a curva de juros (no mercado futuro)”, observa o economista. O banco espera alta do PIB de 6,5% neste ano. O que os dados do PIB do 4.º trimestre apontam para 2010? Confirmam que a recuperação da economia foi no formato de “V”, liderada pela demanda doméstica. Em geral, as recuperações se caracterizavam por um processo no qual o setor externo tinha contribuição muito forte. As exportações tinham um ritmo forte e as importações caíam. A história que se coloca hoje é de um crescimento liderado pelo consumo das famílias e dos investimentos. Olhando para a frente, isso vai persistir nos próximos trimestres, com destaque maior para os investimentos. Os números do 4.º trimestre o levam a alterar a projeção de crescimento para 2010? Não, porque o desempenho veio de acordo com nossa avaliação. Mantemos a projeção de um crescimento do PIB de 6,5% neste ano. O PIB muda o cenário para a taxa de juros? É natural, em um processo de recuperação, que o início apresente um ritmo forte. Portanto, é natural ocorrer uma certa desaceleração nessa trajetória de crescimento. É exatamente o que está embutido nos nossos números. A autoridade monetária (Banco Central) fará um ciclo de aperto dos juros. Mas, dada a dinâmica do crescimento, muito calcada em investimentos, acreditamos em uma alta total de 1,50 ponto porcentual (com a Selic chegando a 10,25% ao ano), bem menos do que aponta hoje a curva de juros. Se olharmos os números de consumo das famílias, já há um início de desaceleração. Por isso, o aperto monetário é algo muito mais preventivo, que não exigirá apertos muito fortes para adequar a economia a um ritmo mais lento. Quando o BC começará a elevar a taxa de juros? Mantemos a expectativa de alta a partir de abril. Nossa hipótese é de uma desaceleração da inflação mensal, o que daria à autoridade monetária tempo para esperar mais um pouco para avaliar a atividade e o ritmo de evolução dos preços. Mas reconhecemos que a diferença em termos de impacto na economia de um aumento em março ou abril é pouco significativa em termos de atividade econômica. Não dá, portanto, para dizer que um início do ciclo em março constituiria um erro de política monetária. Os investimentos cresceram 6,6% no último trimestre de 2009. Isso dá ao País a possibilidade de crescer mais fortemente sem riscos inflacionários? Nossas estimativas sugerem que a economia brasileira é capaz de crescer em torno de 5% ao ano sem gerar inflação. Consequentemente, quando olhamos o ritmo de investimentos, a leitura é: provavelmente, a economia será capaz de crescer nos próximos anos em ritmo mais acelerado do que no passado sem gerar desequilíbrios. Mais favorável ainda é o fato de que, diferentemente do passado, quando os investimentos eram concentrados em setores específicos, hoje, temos todos os setores participando dessa dinâmica de aumento dos investimentos, da capacidade produtiva. Alguns analistas estão preocupados com o aumento do déficit em conta corrente, mas há quem argumente que o mundo está disposto a financiar o Brasil. O que o sr. pensa? Ao contrário do passado, quando o País tinha uma necessidade de financiamento alta, muito calcada em pagamento de juros e amortização, além de um endividamento de curto prazo, hoje essa necessidade está relacionada a fatores pró-cíclicos. Ou seja, remessas de lucros e dividendos, aluguel de equipamentos, etc. É muito mais associado à atividade econômica. Para alguns analistas, o aumento do déficit em conta corrente significa o aumento do risco. Não vemos dessa forma. Essa elevação é muito associada ao desempenho da atividade econômica. Chegará um momento no qual, se não houver financiamento, a taxa de câmbio vai se ajustar. O ajuste desse câmbio, por sua vez, terá de ser muito menor do que no passado. Por quê? Porque as remessas para o exterior das empresas refletem o desempenho dos negócios em reais. Se o real se desvaloriza em relação ao dólar, o déficit em dólar naturalmente diminuirá. Ao mesmo tempo, é natural que, no ajuste cambial, o crescimento econômico diminua. Isso reduz os lucros. Por isso, o risco associado às transações correntes é menor. Em resumo, não vemos riscos importantes, porque a conta corrente hoje é muito mais associada à atividade econômica e seu financiamento se dá com investimento direto e em portfólio, que entram no País por causa desse crescimento maior. |